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“Acervos, quando ativados com intencionalidade, deixam de ser apenas conjuntos de objetos — e se tornam infraestruturas estratégicas para o fortalecimento de redes locais e o redesenho das políticas culturais.”
Lorena Vicini
Em 2022, o acervo do artista Rossini Perez, nascido em Macaíba, interior do Rio Grande do Norte, foi transferido do Rio de Janeiro para a Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte, em Natal. O artista — cuja circulação internacional pela África, Europa e América Latina era traço marcante de sua obra — tinha o sonho de ver esse acervo transformado em uma instituição. Após sua morte, em 2020, uma articulação entre os herdeiros do artista, a diretora do Instituto Rossini Perez, Sabrina Moura, e um grupo de curadores e profissionais da cultura deu origem à nova estrutura.
A chegada desse acervo a Natal não significou apenas a criação de uma instituição responsável por preservar as obras e arquivos do artista. Significou a ativação de uma cadeia de desenvolvimento: pedagógico, cultural, simbólico e territorial.
Porque acervos, quando ativados com intencionalidade, deixam de ser apenas conjuntos de objetos — e se tornam infraestruturas estratégicas para o fortalecimento de redes locais, a diversificação da formação e o redesenho das políticas públicas de cultura.
Em outras palavras, a chegada do acervo do artista a Natal se estabeleceu como um modelo de governança de base territorial.
Na época da transferência do acervo, a Pinacoteca do Rio Grande do Norte não contava com uma estrutura formalizada para lidar com coleções artísticas em escala.
Isso, longe de ser um entrave, abriu espaço para uma experiência inovadora: a criação de um processo de inventário participativo em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), envolvendo estudantes da graduação em Artes Visuais, professores e profissionais da área.
Esse processo proporcionou o desenvolvimento de competências específicas em campos como:
● Museologia e documentação de acervos
● Conservação preventiva
● Curadoria e gestão de bens culturais
A formação tradicional foi expandida para incluir dimensões técnicas e operacionais fundamentais ao ecossistema da cultura.
Um segundo eixo de impacto foi a dinâmica de produção cultural, disparada pela ativação do acervo.
Em 2024, foi realizada a exposição Desenhos de Rossini Pérez, na Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte — um desdobramento direto do processo formativo.
A exposição foi idealizada e submetida a uma lei federal de incentivo por uma estudante da graduação, Ana Carolina Alves, e contou com a curadoria dos professores Fabiola Alves, Everardo Ramos e Mariana do Vale.
O projeto engajou também alunos e egressos em múltiplas frentes: produção executiva, elaboração de material audiovisual, comunicação institucional e mediação.
Isso demonstra como o acervo funcionou como dispositivo formativo transversal, que conecta ensino, extensão, protagonismo discente e inserção no campo profissional.
A visibilidade do acervo atraiu pesquisadores de centros acadêmicos internacionais.
Destacam-se as visitas de Abigail Dardashti (Universidade da Califórnia) e Gonzalo Pinilla (Knox College), que vieram realizar estudos aprofundados sobre a trajetória de Rossini Pérez e as questões transversais trazidas pelo acervo, como é o caso das redes da gravura latino-americana e africana.
Como contrapartida institucional, esses pesquisadores ofereceram oficinas, cursos e conferências públicas dentro da universidade, promovendo um intercâmbio qualificado de saberes.
Trata-se de um exemplo claro de internacionalização descentralizada — em que uma instituição do Nordeste brasileiro assume centralidade no circuito de produção e circulação do conhecimento.
Outro impacto relevante foi a transferência de conhecimento para a rede de ensino básico.
A partir do acervo, foram desenvolvidas ações de formação continuada para professores da rede pública, incluindo minicursos, visitas técnicas e a elaboração de material didático.
Esses recursos permitiram a incorporação da obra de Rossini Perez como conteúdo de aula, ampliando o repertório didático e reforçando o papel da arte como componente estruturante do currículo.
O acervo, assim, se consolidou como ferramenta de mediação entre patrimônio e política educacional.
Em nível regional, a ativação do acervo estimulou novas articulações institucionais.
Em 2025, o acervo deixou a Pinacoteca e passou a ser abrigado, em regime de comodato, pela UFRN. Em diálogo com a Universidade Federal da Paraíba, professores e estudantes da UFRN realizaram uma missão de pesquisa interinstitucional, promovendo trocas com seus pares da UFPB.
Essa iniciativa contribui para o fortalecimento de uma rede nordestina de circulação de acervos, competências e experiências curatoriais.
O caso evidencia que o desenvolvimento cultural não depende apenas da concentração em grandes centros, mas de redes territoriais ativas, capazes de gerar impacto a partir de sua própria densidade histórica e criativa.
O acervo de Rossini Pérez, ao ser ativado de forma estratégica, tornou-se mais do que uma coleção de obras: tornou-se uma plataforma para o desenvolvimento de capacidades locais, um vetor de formação técnica e simbólica, uma infraestrutura para internacionalização, mediação cultural e articulação regional.
Sua chegada catalisou uma transformação estrutural:
● Na formação universitária
● Na relação com o território
● No campo da produção cultural
● E nas políticas de valorização da arte local
Entre os próximos passos do Instituto estão a criação de uma sede própria e a realização de uma nova exposição, organizada para a segunda edição do Ateliê de Iniciação à Curadoria de Arte.
Em outras palavras: não é só o acervo que está sendo ativado.
É o território.
Lorena Vicini é membro do Conselho do Instituto Rossini Perez e atua como Gerente Executiva de Estratégia e Transformação no Instituto Inhotim, onde lidera projetos de consultoria voltados ao planejamento de longo prazo e à sustentabilidade financeira. Junto ao Conselho Diretor, supervisiona o desenvolvimento e a implementação do Plano Estratégico do museu até 2030.
Ao longo de sua trajetória no Inhotim, liderou equipes multidisciplinares e desenvolveu estratégias para fortalecer a reputação e a autoridade institucional. Anteriormente, como Gerente de Comunicação, concebeu e executou projetos editoriais, gerenciou crises de forma eficaz e introduziu metodologias inovadoras para a comunicação digital e interna.
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